Às vezes dou por mim parada, a olhar para as pessoas que apressadamente passam. Eu tenho esta fantasia obscura: invento vidas, sonhos daqueles que passam. Consigo imaginar tudo: advogados honestos, donas de casa felizes, namorados a planear um futuro cheio de amor, mas também imagino ladrões e pessoas corruptas.
Algumas rugas espelham uma vida dura, mas feliz. Alguns passam com um sorriso tão aberto, que nele conseguem conter toda a humanidade. É espantoso o que um rosto e movimento do corpo é capaz de comunicar, se tivermos realmente concentrados. Há, na maior parte das pessoas, uma alienação simples. Cada passo que dão, transportam consigo tantas outras pessoas (é incrível esta união, globalidade) e então imagino-os nas suas diferentes personagens: como reagirão quando um amigo parte, quando a namorada se atrasa. É magnífico a multiplicidade de personagens que podemos ter, e como as podemos usar em momentos tão diferentes, no decorrer do mesmo dia.
Cada pessoa carrega consigo um mundo tão próprio, se olharmos, atentos, conseguimos ver, é como se fosse uma áurea. Há pessoas lutadoras, que lutam pelo seu mundo, NUNCA DESISTIR é o lema deles, e lutam pela felicidade do seu mundo: bom dia à vizinha da frente, uma esmola ao mendigo da esquina e um sorriso calmo quando se deitam. Eu agradeço por haverem assim pessoas, porque sabem que podem mudar o mundo, o seu mundo. Elas caminham serenas e são profundamente humanas. Sabem que o amor tudo conquista. Há outros, que passam taciturnos. E eu quero correr e gritar-lhes: PODES MUDAR O MUNDO, ABRE O CORAÇÃO AO AMOR. Mas, em silêncio, desejo-lhes sorte e peço à mão divina que os oriente, não os quero imaginar infelizes.
Depois, imagino as histórias que os outros inventam de mim. O que será que vêem?
Entretanto o autocarro passou, perdi-o mais uma vez. Chamo-me à razão. Afinal ainda tenho que cozinhar, e de certeza que o marido não se consegue satisfazer com a imaginação de um cabrito assado.
Estou ansiosa por conhecer as pessoas de amanhã.
LunaPapa
1 comment:
muito lindo!
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